BNDES muda atuação na crise
Estamos realizando agora o que tratamos no passado. 2009 não é problema. Pelo menos para o BNDES, não"
Nos 180 dias que sucederam a quebra do banco americano Lehman Brothers, que desencadeou uma situação de pânico na economia global, a sigla do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social apareceu em nove de cada dez decisões de governo tomadas para conter o impacto da crise. Este ano, o BNDES deverá superar com facilidade a marca dos R$ 100 bilhões em liberação de recursos, prevê o diretor de Planejamento do banco, João Carlos Ferraz. A maior parte para financiamentos, mas também uma boa parcela em áreas onde o banco se mantinha distante antes da crise, como capital de giro empresarial.
"Estamos realizando agora o que tratamos no passado. 2009 não  é problema. Pelo menos para o BNDES, não", garante o executivo. Apesar de  insistir na tese de que o foco do banco se mantém em infraestrutura, aumento de  capacidade industrial e inovação, ele reconhece que a situação atual amputa uma  das pernas desse tripé e deixa outra seriamente fraturada. Os investimentos em  inovação, uma das apostas do governo, pararam. E o aumento da capacidade  produtiva sofreu drástica desaceleração. Mantém-se forte a infraestrutura,  prioritariamente por causa das obras do Programa de Aceleração do Crescimento  (PAC).
A revista britânica The Economist destacou recentemente o  importante papel dos bancos públicos brasileiros (além do BNDES, o Banco do  Brasil e a Caixa Econômica Federal) no suporte à economia em tempos de crise.  Para o economista Francisco Barone, professor de Finanças da Fundação Getúlio  Vargas (FGV), medidas como o empréstimo de R$ 100 bilhões do Tesouro ao BNDES em  janeiro e o objetivo explícito do banco de aumentar liquidez para as empresas  nacionais acaba fortalecendo a economia, mesmo que algumas medidas não  acompanhem a demanda.
"As linhas de capital de giro do BNDES são mais um  efeito demonstração para o mercado do que um alento para a economia. É como se o  banco estivesse chamando as instituições privadas a voltar a oferecer crédito",  diz Barone, defendendo o investimento público em período de recessão. Desde que  foi lançada, em dezembro do ano passado, a linha de capital de giro recebeu  pedidos que somam R$ 1,87 bilhão, valor muito aquém da necessidade atual das  empresas. O financiamento do banco estatal às exportações saltou para R$ 6,59  bilhões no ano passado, 54% a mais do que no ano anterior, basicamente por conta  da "seca" de crédito privado às vendas externas.
Ferraz diz que a  situação do mercado exportador ainda não deu mostras de normalização. "Tivemos  de substituir temporalmente esse tipo de financiamento, mas os bancos privados  ainda não voltaram. Fugiram com a crise", diz, ressaltando que o banco de  fomento não mudará sua atuação até que o cenário econômico se estabilize. "Se o  BNDES não emprestar, quem vai emprestar? Deus?", ironiza.
O banco está  presente no socorro às exportações, no pacote habitacional, aumentou sua  participação em obras de infraestrutura, elevou a parcela de financiamento em  projetos industriais, prepara medidas para pequenas e médias empresas, e iniciou  atuação em capital de giro. Não bastasse isso, protagoniza operações como o  aporte de R$ 2,4 bilhões na Aracruz, que passou a ser controlada pelo grupo  Votorantim, depois da reestruturação acionária. O negócio aconteceu três meses  depois da divulgação da exposição da empresa em "derivativos tóxicos" de quase  R$ 2 bilhões.
Há duas semanas, a fabricante de papel e celulose anunciou  prejuízo de R$ 2,9 bilhões no quarto trimestre. Ferraz defende a participação do  banco na Aracruz, lembrando que a empresa cumpriu os requisitos para obter o  apoio, que eram a reestruturação da dívida e da situação acionária.  
NOVO CENÁRIO
Mudança: Depois da quebra do  banco americano Lehman Brothers, no ano passado, o BNDES foi escolhido pelo  governo como uma ferramenta importante para reduzir os efeitos da crise no País.  Com isso, ele passou a atuar em áreas em que não costumava atuar, como  empréstimos para capital de giro para empresas
Setores: As áreas em que o  banco normalmente atuava foram enfraquecidas com a crise. As empresas  desaceleraram investimentos em capacidade industrial e em inovação. Em  infraestrutura, foram mantidos os projetos que fazem parte do Programa de  Aceleração do Crescimento (PAC)
Recursos: O BNDES recebeu um empréstimo  de R$ 100 bilhões do Tesouro em janeiro, o que garante os desembolsos  necessários para este ano. O financiamento do banco às exportações aumentou 54%  já em 2008
